28 setembro 2010

Os "filhos de Cariacica"


A cada ano surgem mais candidatos paroquiais, filhos da terra. Veja o exemplo de Cariacica e como esse tipo de político atrapalha o ES.



O município de Cariacica representa hoje uma realidade característica dos subúrbios de regiões metropolitanas de todo o país. A cidade tem uma grande população e pouco dinheiro. Mas para buscar os votos dessa grande população, muitos candidatos se dizem filhos da terra na hora das eleições e não só conseguem apoio com as autoridades locais, como trazem seus aliados para apresenta-los ao seu recém adquirido curral eleitoral.

Marcelo Santos (PMDB), Aparecida Denadai (PDT) e Lúcia Dornellas (PT) são os que aparecem melhor nas pesquisas para deputado estadual. Ambos se baseiam no discurso de representantes do povo cariaciquense e tem os seus padrinhos, que exercem de suas “autoridades” para os batizar como filhos legítimos do município.

Marcelo Santos (PMDB)
Filho adotivo do ex-prefeito de Cariacica Aloísio Santos, Marcelo foi quem seguiu a carreira política do pai na família. Apoiou-se no sobrenome do pai para se eleger pela primeira vez, mas hoje já começa a dar seus primeiros passos solo. Filiou-se ao PMDB só em outubro do ano passado, mas pelo o que diz em seus comícios, é parceiro dos membros de sua base há anos. Em evento realizado nessa segunda-feira 27 de setembro (seis dias do pleito), apresentou a comunidade seus aliados, que segundo ele estão ao seu lado desde a época em que seu pai era vivo (Aloísio faleceu em 2005). Marcelo é primeiro nas pesquisas do município, mas, como um novo empregado, quer mostrar sua capacidade. Trouxe a Cariacica os candidatos Lelo Coimbra (Ex vice governador de Paulo Hartung e candidato a deputado federal) e Ricardo Ferraço (Membro do ministério nos dois mandatos de Paulo Hartung e candidato a senador) para simplesmente apresenta-los ao povo cariaciquense. As eleições de 2010 parecem ser, para Marcelo, o momento de fortalecer seu curral eleitoral e suas bases eleitorais para vôos mais altos em 2014.

Lúcia Dornellas (PT)
Lúcia é a candidata queridinha da Prefeitura de Cariacica. Do mesmo jeito que Lula move com sua popularidade a campanha de Dilma Roussef, Helder Salomão usa os simpatizantes de seu mandato para fazer Lúcia eleita. Ela é pouco conhecida pelo povo cariaciquense. Assim como Dilma, Lúcia foi o braço direito de Helder quando este era deputado e em seus dois mandatos como prefeito. Prefeito este que venceu inclusive Marcelo Santos e Aparecida Denadai nas últimas eleições municipais. Também semelhante a Dilma Roussef, Lúcia parece um pouco perdida saindo como candidata. Tem boa aprovação graças as fortes alianças de seu partido que além de Helder conta com a deputada federal candidata a reeleição Iriny Lopes. Lúcia é a esperança de Helder para continuar tendo influência em Cariacica. O prefeito conta com a oposição de Marcelo e Aparecida na Assembléia Legislativa, o que representa um certo boicote ao município. Por parte de Aparecida a oposição é declarada, porém Marcelo Santos parte de um princípio mais discreto. O candidato do PMDB disse recentemente em um comício: “Na política não vivemos só de ataques, aprendi que se nós não podemos ajudar, atrapalhar é que não vamos. Por isso, serei o apoio a qualquer prefeitura que esteja no poder em Cariacica.” Desse modo, Marcelo mostra toda esperteza política herdada de seu pai. Sabendo da popularidade de Helder não se opôs a ele para não perder votos com o público do atual prefeito.

Aparecida Denadai (PDT)
Aparecida é a filha bastarda de Cariacica. A candidata a reeleição para deputada estadual não conta com apoio de grandes autoridades do município. Sua candidatura foi baseada sobre tudo na morte de seu irmão o advogado Marcelo Denadai que morreu em 2002 e virou mártir da luta contra a corrupção no ES. Advogada, ela tem seu histórico na luta pelos direitos humanos e nunca havia se candidatado até o sobrenome Denadai ganhar a mídia. Desde então, assumiu o município de Cariacica como sua terra, mesmo que a cidade não tenha correspondido tanto “amor” de Aparecida. Ela foi então adotada por outro município, Santa Leopoldina. A candidata do PDT conta com o dinheiro do Caixa Dois feito com licitações da prefeitura de Santa Leopoldina e da construtora Impact, cujo dono é irmão do ex-prefeito do município Ronaldo Prudêncio. O esquema veio à tona a menos de um mês das eleições. Ronaldo Prudêncio foi afastado da prefeitura por ser o cabeça do esquema, Aparecida tem envolvimento direto no escândalo. A candidata conta inclusive com parentes de Prudêncio nomeados em seu gabinete. O dinheiro desviado foi destinado a campanha dos principais nomes do partido no estado: a candidata a deputada Federal Sueli Vidigal, esposa do atual prefeito da Serra e presidente do PDT no ES, Sérgio Vidigal, e Aparecida Denadai. O interesse de Aparecida em Cariacica parece ser somente o de encontrar um curral eleitoral com uma concorrência menor na Grande Vitória, mas de grande população, onde possa gastar o dinheirinho trago do interior do estado.

Assim como Cariacica, outras cidades tem seus candidatos “paroquiais”
Os representantes do governo costumavam ter atenção voltada para o dinheiro arrecadado pelo estado e os gastos destinados para os grandes municípios. Se sentindo abandonados os eleitores de cidades populosas porém esquecidas, começaram a eleger candidatos paroquiais. Ou seja, o público quer votar em quem defenda os interesses de seu município esquecendo que o deputado é estadual, que deve zelar pelo estado todo, não com interesse em apenas uma cidade. Assim aconteceu na eleição de Theodorico Ferraço (DEM) da paróquia de Cachoeiro, Robson Vaillant (DEM) da paróquia de Alegre, Da Vitória (PDT) da paróquia de Colatina, Paulo Folleto (PSB) da paróquia de Colatina, entre tantos outros.

Pode-se pensar que a democracia ganha com isso, o que é verdade, apenas na teoria. Na prática, o que se vê é um cenário onde deputados buscam os interesses de única e exclusivamente suas cidades e não discutem políticas públicas de interesse do estado como um todo.

Quando surge uma verba, em vez de se discutir planos de desenvolvimento, de investimento em educação, meio ambiente ou qualquer outra questão social, o dinheiro é dividido entre os municípios dos deputados para serem gastos em obras que deviam ser de responsabilidade das prefeituras. Depois, quando voltam às campanhas, os mesmos candidatos partem do discurso de quanto cada um destinou ao município para atrair esse tipo de eleitor paroquial. Precisamos eleger deputados estaduais de fato, não filhos de Cariacica, nem de Domingos Martins, nem da Serra, mas filhos sobretudo do Espírito Santo.

18 setembro 2010

A Inteligência Política de Marina


Hoje, dia 17 de setembro, fui ao Clube Álvares Cabral acompanhar a visita da candidata Marina Silva ao ES. Entre todos aqueles clichês que a imprensa costuma noticiar e perguntar, mantendo em funcionamento o tal "museu de velhas novidades" que é a mídia, uma coisa me chamou atenção e me surpreendeu. Enquanto esperava a chegada da candidata, pude observar que seu eleitorado era diversificado de tal maneira, que é de se assustar que não haja conflitos entre eles.

No evento pude notar jovens de classe média que se identificam com a causa do meio ambiente e fazem militância para a campanha. Vi empresários de grande destaque, debaixo de sol, esperando para entregar propostas para a candidata. Havia forças políticas locais, como a de Vitor Buaiz, apoiando Marina. Vi crianças a seguindo, donas de casa, pastores evangélicos, beatos católicos, senhoras de idade, ativistas esquerdistas, enfim, uma grande quantidade de grupos apresentando apoio a ela.

Longe de querer fazer um lobby pró Marina, quero apenas registrar o que essa acreana promoveu ao conseguir misturar ainda mais a sociedade brasileira. Somente alguém de muita inteligência política e malandragem para ter em suas mãos :

- os principais líderes da Igreja Evangélica como um todo, que representa boa parte da população de baixa renda no Brasil;

- os empresários que dominam cada região do Brasil;

- Os estudantes do ensino Superior, que são os que conseguem dominar a mídia por serem os potênciais futuros consumidores;

- e de quebra conquistar a Classe D, pelo simples fato de ter saído de origens tão miseráveis como da classe pobre.

A astuta Marina pode ser acusada de não entender de política, quando escolheu não fazer alianças. Mas mostrou que entende o eleitor, por aproveitar um cenário em que os dois principais partidos se gladeiam, um acusando e enfraquecendo o outro, em seu favor. Marina se desvencilha de ambos, mas ao mesmo tempo não perde relações, conseguindo se manter como poucos em cima do estreito muro que os separam.

Pois bem amigos, Marina Silva mostra que aprendeu direitinho a lição de casa deixada pelos presidentes anteriores. Ela tem a malandragem de fazer inveja a Getúlio Vargas e a astutez de JK ao ser amiga de todos. Penso que para ganhar as eleições só falta ter a simpatia de Lula, fato que como disse no ínicio do texto, não deve estar longe de acontecer.

10 setembro 2010

"Cansado de levar pernada? Vote no Saci!"



Ator de um personagem só, assim é Manoel Claristenes, conhecido como Saci Pererê. O ator teve seu auge nos anos 80 participando do Sítio do Pica-Pau Amerelo. Depois do término do programa, Saci volta a TV como o grande personagem do horário eleitoral capixaba. Saci, que é conhecido no folclore brasileiro como alguém que prega peças e engana as pessoas, garante que nunca gostou de política e seu maior interesse na candidatura é se aproveitar da mídia.


Ao convidá-lo para uma entrevista Saci logo se dispôs a ir ao meu encontro na Ufes, “Gosto do ambiente verde de lá, vai ficar melhor para as fotos”, falou ao celular. Encontro-o no dia seguinte, reconheço de longe todo caracterizado e pulando corda. Por onde passa, Saci gera comentários das pessoas. Ele assume o personagem, é travesso. Com 46 anos e apenas uma perna, ele se exibe subindo em postes de luz e pedras, dizendo ainda que anda de patinete (confira!), joga futsal e luta capoeira. Pergunto como gosta de ser chamado, ele já tinha uma resposta ensaiada: “Você acha que o Pelé quer ser chamado de Edson ou Pelé? O Zico quer ser chamado de Arthur ou Zico? Comigo é a mesma coisa, ganhei a minha vida sendo Saci e é assim que sou conhecido”, responde ele.


Saci nasceu no centro de Vitória, Espírito Santo, próximo ao Forte São João. Quando era jovem, disputava uma partida de futebol na escola, quando levou uma pancada em sua perna direita. Devido a um erro médico dos precários hospitais públicos da época, teve sua perna amputada. Não se abateu. Começou a pensar no que fazer a partir de então. Foi quando, na década de 80, viu a oportunidade numa apresentação do Sítio do Pica-Pau Amarelo no município da Serra. Sabendo que todos os sacis da trupe tinham as duas pernas, ofereceu-se aos produtores. Conseguiu falar com Samuel dos Santos, o ator que fazia o papel de Tio Barnabé, que o colocou na peça. Viajou para Taubaté, em São Paulo sede do legítimo Sítio. Depois foi para o Rio, ficando mais perto do estúdio da Rede Globo.


Com o término do programa, Saci passou a fazer peças e se apresentar em eventos. Engana-se quem acha que foi prejudicado ao sair da TV, “Não podia ficar a vida toda só na TV, o artista precisa se renovar. Meu forte não é a Televisão, onde pode-se usar a tecnologia para esconder a perna do ator, meu forte é o teatro onde ninguém representa tão bem o saci, quanto eu”, disse Saci. Ele ainda rejeita os empresários: “empresário só quer saber do dinheiro não pensa na carreira do artista. O meu tentava me impedir de apresentar em determinados lugares, por isso não uso mais”. Hoje, Saci é funcionário do Estado, apresentando em eventos, escolas, peças de teatro educativas, sempre atuando como Saci.
A idéia da candidatura surgiu do próprio partido, que o convidou em 2008 para ser candidato a vereador em Vila Velha: “Nunca tive a intenção de sair candidato, mas os políticos não são burros. Eles disseram para mim que não queriam candidatar o Manoel, eu sairia na eleição com o nome de Saci”, revelou. Saci admite nunca ter gostado de política, conta ainda seus reais interesses em sua candidatura, “perdi mercado com a proibição dos showmícios. A candidatura é uma forma de sobrevivência, o artista é muito desvalorizado”, revela. Porém ele não deixa de fazer projetos caso seja eleito, pretende trabalhar numa plataforma de proteção ao meio ambiente, o Guardião das matas: “Monteiro Lobato trabalhava essas questões de aquecimento global desde aquela época, tentava introduzir uma consciência ambiental nas crianças através de sua obra”, conta.


Sua campanha é baseada na busca dos votos de protesto. Diante de um cenário de corrupção, muitos eleitores votam em candidatos bizarros só para “sacanear”. Sobre as críticas de não levar a política a sério, ele logo rebate: “O artista tem que ser criticado. Não viso ganhar a eleição, se ganhar ótimo, tenho minhas propostas para cultura e o meio ambiente. Caso contrário, pelo menos divulguei o folclore brasileiro e o meu trabalho”.


A impressão deixada pelo Saci é das duas uma: ou ele representou por tanto tempo o Saci Pererê que acabou adquirindo características do personagem, ou foi escolhido a dedo pelo destino para representar tão bem essa figura do folclore brasileiro.

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