26 dezembro 2013

Brincando de cabaninha


Me deixa ser sua janela?
quero ser a ponte entre o seu intimo e o mundo,
quero ser o recorte do seu olhar,
quero ser o lugar que você se escora pra admirar o que se passa
quero ser...

Me deixa ser sua porta?
quero ver você se arrumar pra passar por mim,
quero te proteger e deixar trancado lá fora tudo aquilo que você tem medo que te atinja.
Também quero te deixar sair,
passe a chave em mim, me tranque bem pra ter certeza que ninguém vai me roubar,
depois passeie, vá se divertir,
mas vê se volta viu?

Me deixa ser seu chão?
quero ser o que te dá equilíbrio
quero que sua força pese sobre mim e eu te devolva ela do mesmo modo,
prometo que não te deixo cair.
Se cair eu me faço macio, pra logo em seguida me fazer duro pra te ajudar a levantar.

Ah, se só seu eu pudesse ser, eu seria.

22 maio 2013

Cenários - as reflexões que tive acampando no Pico da Bandeira


Enfim realizei algo que já desejava há pelo menos dois anos: chegar ao topo do Pico da Bandeira, o terceiro ponto mais alto do Brasil. Junto de outros quatro amigos planejei a viagem durante um mês, nos preparando porcamente para subir e passar uma noite no ponto mais alto da Serra do Caparaó. Pela falta de dinheiro e experiência em fazer trilhas desse tipo, enfrentamos algumas dificuldades que até poderiam ter impossibilitado cumprir o objetivo, mas pela disposição de nossa idade conseguimos chegar bem até o final.

Porém o que mais me impressionou nisso tudo, e o fator que deve levar tantas pessoas a se interessar em subir a montanha, é a efemeridade da existência humana. Por sermos seres sociais e condicionarmos nossa existência a mudar o ambiente que vivemos, nos acostumamos aos cenários que nossos próprios antepassados criaram. Nossas cidades, nossos prédios, nossos carros, nossos objetos, todos produzidos há poucas décadas. Tudo recente. Ao encontrarmos um item com mais de 50 anos, automaticamente já o consideramos como algo estranho, pertencente a um mundo onde tudo era diferente.

Durante as seis horas de subida, passando por caminhos irregulares de pedras pontudas, longe de todo conforto a que estava adaptado, de tudo o que pensava precisar para sobreviver, percebi o mundo de um jeito que ainda não o entendia. Aos poucos, as espessas névoas foram ficando para trás. Concentrado em onde pisar, com o olhar voltado para o chão e a respiração cansada, mal pude ver as nuvens se dissipando e o céu abrindo. Era bem na hora do crepúsculo, estava em uma posição acima das nuvens, um horizonte avermelhado e triste que só tinha observado das vezes que viajei de avião. Confesso que o achava estranho, e por vezes até entediante, aquele céu limpo, literalmente vazio. Não havia montanhas, não havia prédios, nem árvores e nem nada ao alcance dos olhos.

Com o acampamento montado meus amigos foram dormir. Com frio e sem sono, resolvi sair da barraca. A lua crescente e vistosa que figurara no céu desde a minha chegada desapareceu. Sem a luz da minha lanterna, tudo se resumia a um mundo bidimensional. Enxergava apenas o céu em um tom negro, repleto de incontáveis estrelas, e a massa negra e opaca do terreno, sem nenhuma luz sobre ele, o que me impede até de chama-lo de sombra.

Ali, pela primeira vez, tive noção da existência do universo. Das estrelas que já estavam lá a milhões de anos e daquelas que emitiam sua imagem sem nem ali estar mais. Aquele mesmo céu foi visto por gerações que nem foram descobertas ainda. Aquele cenário viu o nascer do mundo. Toda a história que conhecemos, todas as preocupações que temos, tudo o que desejamos ser, tudo o que passamos, as guerras que aconteceram, as evoluções que tivemos, o que destruímos, o que construímos, os amores que vivemos, tudo não passa de mais um pontinho naquele céu, naquele cenário, que no momento está aceso, mas um dia vai se apagar, enquanto outro pontinho se acende.

Pensando nisso, naquela noite, me dei conta que não há nada que devo me preocupar. Toda decepção que eu tiver, todos os erros que eu vier a cometer, ou ainda que eu tenha acertos, tudo isso não será nada nesse cenário. É como se as cidades que criamos fosse uma forma de nos enganar e acreditarmos que o que fazemos será de alguma forma importante dentro daquele recortezinho que nos convencemos de que é o mundo. Enquanto que o universo permanece ali, imenso, rindo, desse ser tão pequeno e convencido que somos. Seres atrapalhados, seres perdidos. Heh

01 abril 2013

Eu existo!


“Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chamaria talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo!”

trecho de "A descoberta do mundo", de Clarice Lispector.

27 janeiro 2013

Quem são vocês?


Não tenho como deixar de pensar o que as pessoas acham de mim. Queria dizer o contrário, que sou independente e faço o que eu faço pensando só na minha satisfação. Mas isso seria uma grande mentira.
Numa noite dessas, lendo algum livro remoto, com o pensamento distante – letrinhas são meticulosamente hipnotizantes para minha mente disléxica – me peguei querendo saber qual impressão fica em quem lê o que escrevo. Quem são estes leitores?

Às vezes os penso serem pessoas próximas, com um impulsivo interesse súbito por mim e que resolvem me stalkear. Até onde uma pequena pesquisa poderia os levar? Penso que não deve achar grande coisa o que lê, neste momento. Se veio querendo saber se escrevo bem, aviso que não tenho uma técnica tão boa a ponto de romper com barreiras de tempo e espaço e transcender um diálogo direto com você. Se quer saber mais sobre quem sou, te adianto que sou um cara legal. O problema é que não consigo provar isso facilmente. Se és alguma garota, que por algum acaso, se apaixonou por mim, não tenha medo de eu a rejeitar. É provável que se conseguiu me achar algo a mais do que simplesmente legal, é bem capaz que também esteja apaixonado por você. Demorarei para perceber, como tenho feito até aqui, mas mantenha suas esperanças, pelo meu bem. Se não for esse o caso, tento te imaginar agora como alguém que acaba de ouvir meu nome por algum feito interessante. Pelo menos é o que quero acreditar, que eu consigo fazer algo de interessante aos alheios. Se está lendo meu grande best-seller agora ou ficou sabendo da minha trágica morte, – como sempre sonhei, trágica, com bastante cobertura da mídia, de preferência com bastante comoção, se possível, em âmbitos nacionais – pouco me importa.

Talvez você seja neste momento eu mesmo, separado por alguns anos de vida. O que está achando do que éramos? Algo engraçado, que no seu tempo parece ridículo? Pois saiba, seu engraçadinho, que só escrevo coisas assim, pensando em treinar, para que um dia você possa desfrutar de alguma técnica de escrita. Aliás, espero bastante de você. Quantos livros publicados já possuímos? Ao menos construímos uma família feliz, que faça valer a pena enfrentar nosso velho problema em ter de trabalhar? Espero que tudo que tenho feito esteja valendo a pena. Confesso que ando preguiçoso, mas poderia fazer muito menos por nós e me divertir com o que me resta de juventude, em vez de ficar lendo alguns autores e escrevendo textos aleatórios, só pela prática.

De repente nem eu mesmo venha a me ler. De vez enquanto até aparece umas visitas nas estatísticas do blog, mas desconfio que é só alguém pesquisando por uma imagem qualquer que eu tenha relacionado. Mas pode ser que o Blogger por algum motivo simples ou uma conspiração das agências internacionais de inteligência resolva deletar minha conta, e com ela tudo o que escrevi até aqui. A minha fase infantil, a minha fase em que eu achava que era sério mas ainda era infantil, a minha fase apaixonado e esta minha fase cínica, irônica e pessimista. Deixarei gravado no meu computador, mas é provável que não lembre deste doc ao fazer meu backup. Talvez devesse imprimir, colocar este texto em alguma garrafa e jogar no mar. Parece-me tão bonito. Mas não farei isso, é um meio tão singelo de deixar uma mensagem para a posterioridade que a decepção com um texto apenas razoável estaria garantida, modéstia à parte. Sempre se espera mais de alguém que tome uma atitude dessas, por isso não o farei.

Não sei pra quem escrevo, vou engolir essa curiosidade por enquanto. Tudo que eu queria agora era ser onisciente e saber o que as pessoas pensam de mim. E tomara que elas me achem melhor do que eu acho que eu sou.

Ou que possa ter sido.

04 janeiro 2013

Minha cela, minha vida

Me sinto um condenado.

Condenado ao fracasso e a uma vida medíocre. Tenho tido tantas ideias, tantas propostas de mudança em meu caminho, tanta coisa que eu poderia fazer, planos de vida, atitudes que me tirariam desse marasmo tedioso que sou. Porém tudo se esfarela ao vento e meus sonhos se perdem em algum momento, se transformando em memórias distantes com prazo para serem esquecidas.

Eu sou o condenado e as minhas ideias são o sol, vistas de uma janela quadrada com grossas barras de ferro. Como um presidiário que lamenta não mais sentir a luz do sol se transformando em calor em sua pele, sou o fracassado diante de um futuro tão interessante e um presente tão vazio. Minhas noites me levam a sonhos e possibilidades incríveis, mas o dia sempre vem carregado de obstáculos muito mais fortes do que eu. Enquanto isso, tento me fortalecer e ser capaz de traçar uma rota de fuga, enganar a mim mesmo ou ao menos fingir que um dia largarei esta minha cela, este meu casulo. Só espero que o amanhã não seja tão rude e me deixe ao menos essa esperança.