27 janeiro 2013

Quem são vocês?


Não tenho como deixar de pensar o que as pessoas acham de mim. Queria dizer o contrário, que sou independente e faço o que eu faço pensando só na minha satisfação. Mas isso seria uma grande mentira.
Numa noite dessas, lendo algum livro remoto, com o pensamento distante – letrinhas são meticulosamente hipnotizantes para minha mente disléxica – me peguei querendo saber qual impressão fica em quem lê o que escrevo. Quem são estes leitores?

Às vezes os penso serem pessoas próximas, com um impulsivo interesse súbito por mim e que resolvem me stalkear. Até onde uma pequena pesquisa poderia os levar? Penso que não deve achar grande coisa o que lê, neste momento. Se veio querendo saber se escrevo bem, aviso que não tenho uma técnica tão boa a ponto de romper com barreiras de tempo e espaço e transcender um diálogo direto com você. Se quer saber mais sobre quem sou, te adianto que sou um cara legal. O problema é que não consigo provar isso facilmente. Se és alguma garota, que por algum acaso, se apaixonou por mim, não tenha medo de eu a rejeitar. É provável que se conseguiu me achar algo a mais do que simplesmente legal, é bem capaz que também esteja apaixonado por você. Demorarei para perceber, como tenho feito até aqui, mas mantenha suas esperanças, pelo meu bem. Se não for esse o caso, tento te imaginar agora como alguém que acaba de ouvir meu nome por algum feito interessante. Pelo menos é o que quero acreditar, que eu consigo fazer algo de interessante aos alheios. Se está lendo meu grande best-seller agora ou ficou sabendo da minha trágica morte, – como sempre sonhei, trágica, com bastante cobertura da mídia, de preferência com bastante comoção, se possível, em âmbitos nacionais – pouco me importa.

Talvez você seja neste momento eu mesmo, separado por alguns anos de vida. O que está achando do que éramos? Algo engraçado, que no seu tempo parece ridículo? Pois saiba, seu engraçadinho, que só escrevo coisas assim, pensando em treinar, para que um dia você possa desfrutar de alguma técnica de escrita. Aliás, espero bastante de você. Quantos livros publicados já possuímos? Ao menos construímos uma família feliz, que faça valer a pena enfrentar nosso velho problema em ter de trabalhar? Espero que tudo que tenho feito esteja valendo a pena. Confesso que ando preguiçoso, mas poderia fazer muito menos por nós e me divertir com o que me resta de juventude, em vez de ficar lendo alguns autores e escrevendo textos aleatórios, só pela prática.

De repente nem eu mesmo venha a me ler. De vez enquanto até aparece umas visitas nas estatísticas do blog, mas desconfio que é só alguém pesquisando por uma imagem qualquer que eu tenha relacionado. Mas pode ser que o Blogger por algum motivo simples ou uma conspiração das agências internacionais de inteligência resolva deletar minha conta, e com ela tudo o que escrevi até aqui. A minha fase infantil, a minha fase em que eu achava que era sério mas ainda era infantil, a minha fase apaixonado e esta minha fase cínica, irônica e pessimista. Deixarei gravado no meu computador, mas é provável que não lembre deste doc ao fazer meu backup. Talvez devesse imprimir, colocar este texto em alguma garrafa e jogar no mar. Parece-me tão bonito. Mas não farei isso, é um meio tão singelo de deixar uma mensagem para a posterioridade que a decepção com um texto apenas razoável estaria garantida, modéstia à parte. Sempre se espera mais de alguém que tome uma atitude dessas, por isso não o farei.

Não sei pra quem escrevo, vou engolir essa curiosidade por enquanto. Tudo que eu queria agora era ser onisciente e saber o que as pessoas pensam de mim. E tomara que elas me achem melhor do que eu acho que eu sou.

Ou que possa ter sido.

04 janeiro 2013

Minha cela, minha vida

Me sinto um condenado.

Condenado ao fracasso e a uma vida medíocre. Tenho tido tantas ideias, tantas propostas de mudança em meu caminho, tanta coisa que eu poderia fazer, planos de vida, atitudes que me tirariam desse marasmo tedioso que sou. Porém tudo se esfarela ao vento e meus sonhos se perdem em algum momento, se transformando em memórias distantes com prazo para serem esquecidas.

Eu sou o condenado e as minhas ideias são o sol, vistas de uma janela quadrada com grossas barras de ferro. Como um presidiário que lamenta não mais sentir a luz do sol se transformando em calor em sua pele, sou o fracassado diante de um futuro tão interessante e um presente tão vazio. Minhas noites me levam a sonhos e possibilidades incríveis, mas o dia sempre vem carregado de obstáculos muito mais fortes do que eu. Enquanto isso, tento me fortalecer e ser capaz de traçar uma rota de fuga, enganar a mim mesmo ou ao menos fingir que um dia largarei esta minha cela, este meu casulo. Só espero que o amanhã não seja tão rude e me deixe ao menos essa esperança.