Não tenho como deixar de pensar o
que as pessoas acham de mim. Queria dizer o contrário, que sou independente e
faço o que eu faço pensando só na minha satisfação. Mas isso seria uma grande
mentira.
Numa noite dessas, lendo algum
livro remoto, com o pensamento distante – letrinhas são meticulosamente
hipnotizantes para minha mente disléxica – me peguei querendo saber qual
impressão fica em quem lê o que escrevo. Quem são estes leitores?
Às vezes os penso serem pessoas
próximas, com um impulsivo interesse súbito por mim e que resolvem me stalkear. Até
onde uma pequena pesquisa poderia os levar? Penso que não deve achar grande
coisa o que lê, neste momento. Se veio querendo saber se escrevo bem, aviso que não tenho uma técnica tão boa a ponto de romper
com barreiras de tempo e espaço e transcender um diálogo direto com você. Se
quer saber mais sobre quem sou, te adianto que sou um cara legal. O problema é
que não consigo provar isso facilmente. Se és alguma garota, que por algum
acaso, se apaixonou por mim, não tenha medo de eu a rejeitar. É provável que se conseguiu me achar algo a mais do que simplesmente legal, é bem capaz que também esteja
apaixonado por você. Demorarei para perceber, como tenho feito até aqui, mas
mantenha suas esperanças, pelo meu bem. Se não for esse o caso, tento te
imaginar agora como alguém que acaba de ouvir meu nome por algum feito
interessante. Pelo menos é o que quero acreditar, que eu consigo fazer algo de interessante aos alheios. Se está lendo meu grande
best-seller agora ou ficou sabendo da minha trágica morte, – como sempre sonhei,
trágica, com bastante cobertura da mídia, de preferência com bastante comoção,
se possível, em âmbitos nacionais – pouco me importa.
Talvez você seja neste momento eu
mesmo, separado por alguns anos de vida. O que está achando do que éramos? Algo
engraçado, que no seu tempo parece ridículo? Pois saiba, seu engraçadinho,
que só escrevo coisas assim, pensando em treinar, para que um dia você possa
desfrutar de alguma técnica de escrita. Aliás, espero bastante de você.
Quantos livros publicados já possuímos? Ao menos construímos uma família feliz,
que faça valer a pena enfrentar nosso velho problema em ter de trabalhar?
Espero que tudo que tenho feito esteja valendo a pena. Confesso que ando
preguiçoso, mas poderia fazer muito menos por nós e me divertir com o que me resta
de juventude, em vez de ficar lendo alguns autores e escrevendo textos
aleatórios, só pela prática.
De repente nem eu mesmo venha a
me ler. De vez enquanto até aparece umas visitas nas estatísticas do blog, mas
desconfio que é só alguém pesquisando por uma imagem qualquer que eu tenha
relacionado. Mas pode ser que o Blogger por algum motivo simples ou uma conspiração
das agências internacionais de inteligência resolva deletar minha conta, e com
ela tudo o que escrevi até aqui. A minha fase infantil, a minha fase em que eu
achava que era sério mas ainda era infantil, a minha fase apaixonado e esta
minha fase cínica, irônica e pessimista. Deixarei gravado no meu computador,
mas é provável que não lembre deste doc ao fazer meu backup. Talvez devesse
imprimir, colocar este texto em alguma garrafa e jogar no mar. Parece-me tão
bonito. Mas não farei isso, é um meio tão singelo de deixar uma mensagem para a
posterioridade que a decepção com um texto apenas razoável estaria garantida, modéstia
à parte. Sempre se espera mais de alguém que tome uma atitude dessas, por isso
não o farei.
Não sei pra quem escrevo, vou engolir
essa curiosidade por enquanto. Tudo que eu queria agora era ser onisciente e
saber o que as pessoas pensam de mim. E tomara que elas me achem melhor do que
eu acho que eu sou.
Ou que possa ter sido.