25 março 2011

Um pouquinho de Cazuza em mim

Num desses dias em que a gente fica na frente da tv, trocando de canal, prestes a desligá-la, parei no Canal Brasil. Tava passando o filme do Cazuza, já no finalzinho, na parte em que ele está com aquela aparência pálida e raquítica. Já tinha visto o filme, mas não depois de todo o período em que passei no hospital. O filme me abriu os olhos para muitas coisas que vem me perturbando.


Comecei a me identificar com as atitudes de Cazuza. Suas ignorâncias, suas atitudes desleixadas em relação a sua saúde e até da aproximação que buscava com seus amigos. Antes, na primeira vez que vi o filme, achava essas atitudes egocêntricas e exageradas. Me perguntava como que alguém poderia desconsiderar a opinião da família e “acelerar seu processo de destruição”. Agora já entendo tais atitudes. Estou há 4 meses “doente”. Com 4 cirurgias no corpo, um coração instável, um sistema digestivo precário e o pior de tudo: a limitação.


No hospital senti muita dor e agonia. Mas nada dói tanto quanto a limitação, não poder fazer o que você sempre foi capaz de fazer. Como Cazuza, não aguentei ver meus amigos bebendo, jogando bola, correndo, dançando e indo aonde quer que dê vontade, enquanto precisava me resguardar.

Não sou tão genial como ele era, mas ainda assim consigo tirar muitas lições da vida com todo esse processo. Ficar numa UTI, passar tanto tempo acamado, sobre cuidados médicos e restrições o torna uma pessoa mais humilde apesar de tudo. Fico estressado e tenho ataques de rebeldia insistindo em fazer o que não posso. Mesmo diante de nossos familiares tentando nos alertar com toda aquela calma que só quem te ama pode ter. Mas no fundo aprendi que nem eu, nem quem é “saudável” pode viver só. Ninguém consegue ser dono do nariz. Todos nós precisamos uns dos outros, mesmo quando não queremos essa ajuda.


p.s: Tô ligado que pelo histórico da vida amorosa do Cazuza o título ficou gay pra caralho. Foda-se.


Um comentário: