28 março 2011

Eu, o domingo e as minhas dores

As 24h depois de uma derrota são como uma ressaca lenta e dolorosa. Mas depois que a dor passa, e falo por isso porque já passei muita esse ano, vejo que ela nem era tão grande assim e seria capaz de enfrentá-la de novo. Passei três tipos de dores diferentes no domingo que pensei que fossem me destruir. Mas eu ainda estou aqui, rindo e me sentindo mais forte. Então vamos descrevê-las, uma por parágrafo.

Corinthians x São Paulo.
Para muitos o futebol não é merecido de emoções por parte dos torcedores. Já tentaram me alegrar muito com essa ideologia após derrotas. Mas quem me conhece, sabe que dou muita importância ao Corinthians: sofro, choro, entristeço e até adoeço por ele. Perder para um rival não é fácil, ainda mais quando de uma só vez perdemos a freguesia de quatro anos invicto, a liderança e ainda ver esses bambis comemorando uma marca histórica em cima da gente. Pois bem, todo duelo que se só ganhe perde a graça. É como deixar o irmão mais novo ganhar de vez enquanto, só pra incentivar ele e ver se lá na frente nos divertimos mais ao ganhar dele. Ver o Bambi Ceni fazer 100 gols deu raiva, mas quem joga há 20 anos num mesmo time como titular, batendo todas as faltas e pênaltis já devia ter passado dos 100 há muito tempo. E pra finalizar o Corinthians perdeu com honra, com 9 jogadores em campo pressionou até o final e não abaixou a cabeça com a derrota. De quebra ainda estamos na frente delas no campeonato.

Decepção amorosa.
Quem já sentiu essa dor, sabe que ela demora pra passar. Por vezes até dá prazer em senti-la. Pois é muito chato quando não conseguimos nos concentrar por pensar em alguém, quando todos os filmes e todas as músicas parecem estar falando de você, quando ficamos de uma a três horas na cama pensando em como seriamos felizes juntos, como nos combinamos e tudo mais. Isso acontece comigo o tempo todo. Sou o mestre das paixonites agudas. Insisto em amar platônicamente, sem coragem para demonstrar e quando o faço, sai tudo do jeito errado. Mas pelo menos tem um lado bom, as paixonites agudas quando mal ou não concretizadas passam e não deixam cicatrizes. Agora quando se concretiza, hmmm fica uma marca que demora a sair. Em mim demorou uns dois meses. Amei demais uma pessoa (fiz até poema pra ela). À minha maneira, tentei até demonstrar meu amor, sempre tomando o cuidado pra não ser um chato, um psicopata perseguidor ou algo parecido. Mas aconteceu rápido demais e minha parceira não me aco
mpanhou na paixonite. Me entristeci e me afastei um pouco, até porque coincidiu com minha recente internação no hospital. Pra dizer a verdade já até mudei de ideia quanto ao que ia escrever aqui... definitivamente essa dor ainda não passou, vamos pro outro parágrafo.

Aahhh o Hospital.
Ele tem sido minha segunda casa este ano, por conta de uns tais coágulos tive que voltar ao hospital ontem e por pouco não engulo mais uma internação (but I said no, no, no). O fato é que mais uma vez deitado no pronto socorro olhando pra cima (porque minhas cirurgias foram todas na parte frontal do tronco e só dá pra deitar assim) pensei porque eu estava passando por aquilo tudo. Tenho 19 anos e uma aparência relativamente saudável, então todos que passam por mim no Hospital se ou me perguntam: "O que esse menino faz aqui?". Já estou até acostumado, mas ontem por falta de um passatempo melhor, fiquei tentando responder essa pergunta. Maus hábitos? Não. Sempre me exercitei e por ser vegan tinha uma alimentação bem balanceada, não tenho nenhum histórico familiar de doenças deste tipo. Aí senti aquela pulguinha atrás da orelha que todo ateu sente de vez enquanto: será castigo de Deus? Na cabeça me veio toda aquela reflexão retórica de ciência x religião, cujo em nenhum dos dois campos tenho um conhecimento assaz considerável. Por coincidência um amigo católico me veio depois com uma conversa de que "Deus ou age por amor ou pela dor, ele tá te mostrando os caminhos, quando você amadurecer vai perceber o quão errado está". Por mais que pareça sensacionalismo ou oportunismo para os mais céticos, na hora eu considerei muito o que esse amigo disse. Mas a verdade é que dores físicas só doem no momento, agora que eu estou melhor não tenho tempo pra pensar nessas coisas. Foi o que decidi fazer há algum tempo atrás. Se não posso responder essas perguntas, vamos conviver com elas, esquecendo-as ou armazenando conhecimento para um dia ter um veredito. Mas é certo que quando a dor voltar a pulga volta também

Enfim, é assim que lido com as minhas dores. Na verdade superei foi porra nenhuma, apenas estou ignorando #ficaadica

25 março 2011

Um pouquinho de Cazuza em mim

Num desses dias em que a gente fica na frente da tv, trocando de canal, prestes a desligá-la, parei no Canal Brasil. Tava passando o filme do Cazuza, já no finalzinho, na parte em que ele está com aquela aparência pálida e raquítica. Já tinha visto o filme, mas não depois de todo o período em que passei no hospital. O filme me abriu os olhos para muitas coisas que vem me perturbando.


Comecei a me identificar com as atitudes de Cazuza. Suas ignorâncias, suas atitudes desleixadas em relação a sua saúde e até da aproximação que buscava com seus amigos. Antes, na primeira vez que vi o filme, achava essas atitudes egocêntricas e exageradas. Me perguntava como que alguém poderia desconsiderar a opinião da família e “acelerar seu processo de destruição”. Agora já entendo tais atitudes. Estou há 4 meses “doente”. Com 4 cirurgias no corpo, um coração instável, um sistema digestivo precário e o pior de tudo: a limitação.


No hospital senti muita dor e agonia. Mas nada dói tanto quanto a limitação, não poder fazer o que você sempre foi capaz de fazer. Como Cazuza, não aguentei ver meus amigos bebendo, jogando bola, correndo, dançando e indo aonde quer que dê vontade, enquanto precisava me resguardar.

Não sou tão genial como ele era, mas ainda assim consigo tirar muitas lições da vida com todo esse processo. Ficar numa UTI, passar tanto tempo acamado, sobre cuidados médicos e restrições o torna uma pessoa mais humilde apesar de tudo. Fico estressado e tenho ataques de rebeldia insistindo em fazer o que não posso. Mesmo diante de nossos familiares tentando nos alertar com toda aquela calma que só quem te ama pode ter. Mas no fundo aprendi que nem eu, nem quem é “saudável” pode viver só. Ninguém consegue ser dono do nariz. Todos nós precisamos uns dos outros, mesmo quando não queremos essa ajuda.


p.s: Tô ligado que pelo histórico da vida amorosa do Cazuza o título ficou gay pra caralho. Foda-se.