13 julho 2012

mto agradecido

ah obrigado blogger,
por satisfazer minhas vontades de colocar o que penso na rede sem que ninguém veja.

compensação

Não é preciso ser muito bonito quando se é inteligente.
E vice-versa

poder supremo


quando estava na escola
era torturado por meninos maiores que começavam a descobrir o gosto do poder.
tomava beliscões, cascudos e empurrões
escondiam minhas coisas e me humilhavam, dizendo de mim tudo que já sabia mas não gostava de ouvir.
algo que repeti tudo de novo quando cresci, ao chegar minha vez.

agora enfrento essas moças meigas.
não há nada mais irritante e apaixonante que essas suas inocências
sem querer, entro em seus joguinhos e me deixo envolver
usam de suas falsas ingenuidades para me confundir e mesmo perdendo pareço ser o mais errado.
de alguma forma conseguem ser tão cruéis como aqueles valentões e tão dóceis como suas vítimas.

02 julho 2012

Conto padrão de pós-briga


Pegou as chaves do carro e saiu. Buscou na rua proteção contra as divergências que tinha em casa com sua mãe. As discussões haviam se tornado mais constantes após o filho ingressar na universidade. Ele ainda estava se acostumando com sua autonomia e era em casa que sempre procurava testar limites.

A discussão havia começado por um motivo tão banal que mal se lembravam qual era, mas sempre se resumia na luta da mãe por hierarquia. Ela o criara dando-lhe bastante liberdade, pedia opiniões sobre as aquisições da casa, colocava-o a par dos negócios da família e até o incentivava a assumir as rédeas das finanças. Ele até ameaçava assumir seu posto, mas se irritava facilmente e desistia antes de começar. A mãe o apoiava e sequer o pressionava por ainda não ter começado a trabalharas. Ela somente se irritava pelos caminhos errantes que o rapaz escolhera ao rejeitar sua religião.

Saiu do bairro que morava sem nem mesmo saber onde iria. Gostava da estrada como cenário para reflexões, talvez por influência do pai que o havia deixado aos sete anos para se tornar caminhoneiro. Parou em uma loja de conveniência e comprou um maço de cigarros. Não tinha o hábito de fumar, se interessava mais na impressão rebelde que um cigarro o deixava. Mal conseguia tragar e dirigir ao mesmo tempo. O rádio estava com a opção de músicas aleatórias acionada e a trilha não combinava com seu humor, mas ele nem ligou. Gostava mesmo era de dirigir e se deliciava em deslizar por entre os carros em alta velocidade. O carro era quase de sua idade e de um modelo que não teria muito valor para a maioria das pessoas. Talvez por isso se identificasse tanto com o veículo. De tanto o dirigir, até sentia que o carro havia se transformado em uma extensão de seu corpo. Era o único espaço em que conseguia privacidade. Gostava de como fazia se lembrar do pai e de como era inadequado para sua condição social.

O rapaz pertencia a uma classe média emergente, mas rejeitava e se sentia rejeitado por essa condição. Preferia sempre lugares e pessoas mais humildes, onde o papel social fosse o que menos importasse. Acabou deixando o carro o levar para um bar onde costumava se encontrar com alguns amigos, bem afastado do local em que morava. A rua do bar era pouco habitada durante à noite e bastante violenta também. Era o limite entre a área em que a polícia monitorava e de onde os traficantes se tornaram mais soberanos que o Estado. Ele não tinha medo do lugar, na verdade se sentia mais seguro. Pelo menos os preceitos de que fugia não o alcançariam ali.

Seus companheiros eram em sua maioria mais velhos e menos instruídos que o garoto, mas ainda assim o respeitavam. Lá eles começaram a assistir lutas na tv. O garoto não era o maior fã do esporte, mas se deixou perder por algumas horas concentrado naquelas disputas. Dentro daquele cenário ele parecia se transformar e assumir uma personalidade bem mais simples do que passava em casa. Mesmo possuindo conceitos diferentes dos amigos, conseguia se dar bem com eles a ponto de assumir para si, algumas de suas características, principalmente quanto ao modo de falar. Gostava de levar para casa e para a sala da aula muito do que aprendia ali. Considerava-se capaz de percorrer os dois mundos com facilidade.
Um de seus amigos o chamou para uma festa perto de onde morava. Achou engraçado como o lugar de que tanto fugia voltava para assombrá-lo. Esperou até o início da madrugada para decidir se iria. O amigo, afoito, olhava a todo tempo para o relógio a fim de ir logo para a festa. Ele pensava no que faria após a luta acabar, estava determinado a deixar a mãe preocupada com sua demora. Tinha até se precavido de esquecer o celular em casa, em cima da mesa da cozinha, onde a mãe acharia com facilidade. Pensou em recusar o convite e ir a um bar próximo dali em que artistas independentes tentavam impressionar um público adolescente cheirando a álcool. Achou que se sentiria desconfortável por não ter nenhum conhecido no local. Ainda que se considerasse interessante, era tímido demais para puxar conversas com desconhecidos. Além do mais, acreditou que o público não lhe agradaria tanto, apesar de gostar do estilo de música do ambiente.

Antes mesmo do fim, já perdera o interesse nas lutas e, entediado, bocejou. Olhou para o afoito amigo e decidiu confiar a ele o destino para qual iria. No carro chegaram a um assunto envolvendo mulheres. Ouvia as queixas do companheiro que se desapontara com uma mulher com quem tinha feito planos. O amigo, quase dez anos mais velho que ele, já começava a se preocupar em se casar e ter filhos. Talvez fugindo desse encargo que havia arranjado para si, procurava sair à noite em busca de prazeres passageiros. Sem ter o que dizer para consolar o companheiro ele se sentiu desconfortável e culpou-se por não poder ajuda-lo. Queria ter algo para lhe falar naquele momento, qualquer coisa, mas não conseguiu abrir a boca. Seu silêncio fazia transparecer a diferença de idade entre os dois. Se sentiu menos maduro por isso. O local, desconhecido por ambos, começava a se aproximar e o assunto acabou deixado de lado para que se discutisse qual caminho deveriam seguir. Eles pararam o carro próximo a uma boate. Com sono, o garoto mais novo preferiu não ir para a festa com o companheiro. No meio do caminho enquanto ouvia as queixas do colega na viagem, decidiu voltar para casa. O amigo lhe assentiu com a cabeça sorrindo e se despediu.
Em casa o cenário não transmitia a confusão que armara antes de sair. A mãe assistia tv na cozinha e nem lhe perguntou onde havia ido, mesmo com ele tendo se ausentado por umas 6 horas desde a discussão. Em tom afável perguntou-lhe se queria algo para comer e ele, igualmente dócil, disse que não. O relacionamento entre os dois era tão intenso quem nem precisaram trocar pedidos de desculpas. Era comum que após uma briga, os dois se afastassem por algumas horas e voltassem a se falar normalmente.

Com um beijo a mãe lhe deu boa noite e se juntou ao irmão mais novo para ir dormir. Sozinho, na madrugada, procurou por algo para beber na geladeira e sentou no sofá. Deixou-se distrair pela tv e decidiu que terminaria aquela discussão em uma outra oportunidade.