24 agosto 2010

Relatos de um Réporter Inexperiente


Diante das crises de mercado, do futuro incerto e do salário cada vez menor, o jornalismo continua como uma das profissões mais almejadas pelos estudantes. Talvez fugindo das exatas e da grande concorrência em Direito, a escolha de jornalista pareceu óbvia para mim. Aos poucos fui me contaminando pela carreira. Percebi o quanto de poder ela exerce sobre o mundo, vi nela uma oportunidade de tentar botar em prática tudo que sempre acreditei, começar minha luta. Minha primeira experiência como 'réporter' veio no último dia 20, quando a candidata Dilma veio ao ES.
Durante todo um semestre ganhei um pouco de conhecimento teórico na faculdade. A prática eu acreditava que ganhava apenas escrevendo neste blog. Como eu estava enganado. Talvez o mais próximo de reportagem que eu já havia chegado foi na matéria Diário de Bordo, em que a bordo de um caminhão passei algumas semanas viajando pelo Brasil. Também pude sentir um pouco do que é escrever suas observações como jornalista no post de minha primeira caravana. Porém não estava lá como réporter, não havia sentido as dificuldades de ser jornalista.
A oportunidade de botar em prática tudo que aprendi veio só no segundo semestre da faculdade. Precisando fazer um blog para uma determinada matéria, eu mais alguns amigos escolhemos o tema política, área pela qual sempre quis atuar.


Logo na primeira pauta, tive a oportunidade de ir de encontro com uma dos 'presidenciáveis', Dilma Roussef. Eu e um colega de sala chegamos na Praça Costa Pereira, em Vitória, por volta das 10h. Entrevistamos alguns candidatos ali presentes, fizemos raiva em alguns pelas perguntas idiotas, deixando trasparecer nossa inexperiência. Mas nada que prejudicasse o andamento da matéria.

Dirigimo-nos para a rua onde a candidata iria desfilar em carreata. Havia ali uma multidão, mas não de eleitores mais entusiastas e sim de funcionários/militantes de outros candidatos. Eles balançavam suas numerosas bandeiras pela rua, talvez estariam ali tentando aproveitar um pouqinho da mídia em cima da candidata. E não eram só candidatos de pouca expressão não. Candidatos do porte do senador Magno Malta, do senador Ricardo Ferraço, do prefeito João Coser e do senador e candidato a governador Renato Casagrande se acotuvelavam na expectativa de ficar ao lado de Dilma. Vitória de Ferraço e Casagrande.

A candidata Dilma estava a caminho. Ela chegara ao Aeroporto de Vitória e partia em carreata até o centro de Vitória, de onde partiria em carro aberto. Sua visita ao estado significava pouco para ela, acredita-se que o ES tenha 1% dos eleitores do Brasil, mas muito para os candidatos daqui. Não só candidatos, a imprensa também esperava muito por sua visita.

Enfim, ela chega. Percebo sua presença só com a confusão gerada pelos fotográfos. Eu e meu amigo, tentamos uma "vaga" na camionete que levava os fotógrafos. "Desce menino, aqui é só para imprensa", disse uma senhora. "Eu sou da Imprensa,tia", respondeu meu amigo. Junto com uma outra moça, meu colega sobe na camionete. Eu prefiri ficar transitando entre o vácuo criado entre fotógrafos e bandeiradores.

Durante o percurso não pude evitar um sorriso que escapulia pelos cantos de minha boca. Quanto mais o tempo passava, mais esquecia do meu objetivo ali, virava um Tiete. Na minha cabeça só passava o quão importante era Dilma naquele momento para o cenário político brasileiro. Já tinha esquecido de fotografar, meu objetivo agora era apertar a mão de Dilma. Passei por toda a hierarquia do poder: apertei primeiro a mão de João Coser, depois a de Casagrande para enfim apertar a mão de Dilma. Com a máquina em mãos, mudei a função para "gravar vídeo". Daquele momento em diante, comecei a construir o troféu que ostentaria durante alguns dias. Minha "entrevista exclusiva" com a Dilma.

Liguei a camera tremendo um pouco. A tremedeira era uma mistura de emoção junto com o empurra-empurra dos bandeiradores querendo que seus candidatos saissem na foto do jornal no dia seguinte. Falei para Casagrande: "Casagrande, fala alguma coisa para a camera", nem me lembro do que ele respondeu. Olhei para Dilma, quando cruzamos olhares, disparei: "Dilma fala alguma coisa para os estudantes da Ufes" e ela respondeu: "Vamos continuar lutando pelo futuro desse país". Neste momento, o sorrizinho que escapulia pelo canto da boca, tomou-a por completo.

Não era pelo o que ela tinha falado. Não era por ser ela quem estava falando. Minha alegria foi por estar, mesmo que indevidamente, dando um "furo" (será?) nos jornalões capixabas. Foi por estar sendo réporter.

Depois do discurso na Praça Oito, depois da caminhada, fui embora do evento aos gritos de "Olê, Olê, Olê, Olááá... Dilmááááa, Dilmááááááa". Sai dali com a certeza de que queria ser jornalista. Esqueci de todos os empecílios até então, a mochila pesada, o sol quente, o empurra-empurra, o ônibus que pegara para ir e o que pegara para voltar. Quando cheguei em casa, pude enfim sentar e sentir aquele alívio de dever cumprido. Não por ter feito a primeira espécie de reportagem. Mas dever cumprido por ter feito com maestria a escolha de minha carreira.

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